Já tanto se tem escrito sobre o Natal e ainda mais possivelmente se escreverá no futuro, mas deixo-vos aqui a minha visão pessoal e actual sobre aquilo que se designa por Natal.
Devo deixar claro a quem lê estas linhas que não sou adepto/associado/crente de nenhuma religião, por isso não vejo o Natal como a celebração do nascimento de Jesus (acredito que os verdadeiros crentes vejam o Natal como muito mais do que isto, claro). A minha visão do Natal não é, portanto, fundamentada em qualquer religião.
Este ano, ao contrário do anterior, gostei do Natal e das decorações das ruas de Lisboa. Talvez isto sejam fases e prova de que o Natal não é apenas algo detestável por estar completamente comercializado mas directamente ligado a qualquer coisa cá dentro de nós.
Puz-me na pele de quem organiza e monta as iluminações, por exemplo. Não consegui imaginar ninguém envolvido que não tivesse um mínimo de prazer no que estava a fazer, nem que fosse por alguns momentos, quebrando o possível azedume durante o período de trabalho. Nem que tenha sido após trabalho feito, ao contemplar o resultado final, recordando tempos de míudo.
As maiores críticas que se fazem ao Natal é o fanatismo do consumismo que se verifica todos os anos e parece ser sempre maior a cada ano que passa. Sobre isto, tenho duas coisas a dizer:
Não é preciso ter espírito de comerciante para compreender um... Devo dizer que eu não gosto de gestão de dinheiro e não me identifico com gestores ou comerciantes. Mas vejo que um comerciante precisa de ganhar dinheiro, para viver e para se sentir realizado profissionalmente. É perfeitamente normal que tente ganhar dinheiro quando surgem oportunidades (ninguém critica os comerciantes quando a eles se recorre para comprar presentes de aniversário, pois não? Possivelmente não estariam à espera que um vendedor vos perguntasse “É para oferecer a alguém que faz anos? É que se for, não é correcto eu vender...”).
O segundo ponto é que muitos de vós já esqueceu o que décadas atrás nas vossas vidas vos fazia delirar com o Natal :
Prendas! Sim, quem é que não sonhava com semanas (ou meses) de antecedência com o mágico dia em que iria esfarrapar os embrulhos e histericamente encontrar dentro de uma embalagem o objecto material que se desejava mais do que a vida? Quem, cujos pais tinham condições económicas para tais ofertas, bem entendido. Portanto, vejo aqui um misto de esquecimento/hipocrisia/azedume.
O Natal material, comercial, já não é tanto para nós pois entretanto crescemos, mas ainda mexe connosco, para mal ou para bem. Resta-nos portanto o lado afectivo, espiritual (para quem se identifique deste modo) e de pensar um pouco sobre a nossa vida e como nos relacionamos com os outros. Talvez por isto mesmo é que muitos de nós vemos o Natal como algo negativo e depressivo, pois neste campo as coisas correm mal a muita gente.
Devo confessar que este Natal ofereci prendas (ou presentes... parece que os do jet7 não gostam de um destes termos, não quero ofender ninguém). Fi-lo porque gosto de oferecer, porque gosto e preciso de partilhar. Tal como o costumo fazer durante o resto do ano. Coisas muito acessíveis economicamente, mas que têm (espero) um valor grande para quem as recebe. Lá por ser Natal e se estar num período de consumismo, não foi razão para que o deixasse de fazer nesta altura! Nem outra qualquer razão poderia haver. Só lamento a “obrigação” de nos invade nesta altura em “ter” de corresponder à oferta de um presente, “tendo” de oferecer outro presente de volta... Quando a isso, acreditem que não levo a mal quem este ano se viu surpreendido com o meu acto e se sentiu obrigado em corresponder e não teve oportunidade. Aliás, nem eu deveria levar a mal.
Talvez o mais importante no Natal seja mesmo a sua unicidade, o facto de só existir uma vez por ano, ao contrário de que quem defende a utopia de dever ser todos os anos. É simultaneamente algo positivo e negativo.
Positivo, pois quer se queira quer não, há momentos em que se pondera sobre o que vai cá dentro e como interage com o que vai lá fora. E isso é de uma importância extrema. Tomando em conta que no corre-corre das nossas vidas presentes, mal tempo temos para pensar sobre nós e muito menos sobre os outros, mais vale ao menos apenas
uma vez por ano, (em caso limite!), ponderar sobre estes assuntos do que eternamente atirarmo-los para trás das costas. Porque acredito que é impossível pensarmos nestes assuntos
seriamente todos os dias e mesmo às vezes difícil apenas uma vez por semana ...
Nem que o Natal exista só para nos trazer à memória o mal-estar a ele associado. Ao menos uma vez por ano. Caso contrário, correríamos o risco de esconder tudo aquilo que nos corre mal numa gaveta para sempre.